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  • Textos
Fotografia, uma linguagem de importância crescente
Frederico Morais O Globo, 3/3/1980
Outro espaço que a fotografia vai conquistando pouco a pouco é o das portarias de edifícios residenciais. Não me refiro às fotos emolduradas, mas a verdadeiros painéis. Há algum tempo me referi, nesta coluna, à decoração feita por Mauricio Salgueiro para um edifício no Cosme Velho, na qual, mediante o recurso da fotografia, faz uma análise da especulação imobiliária, após uma meticulosa pesquisa em arquivos públicos e históricos do Rio. O resultado é irônico, pois ele discute a especulação imobiliária no seu próprio campo de ação, alertando para essa febre de progresso que vai destruindo o que o Rio tem de melhor. Agora, para um edifício no Leme, Mauricio Salgueiro envereda por um campo mais formal mas não menos significativo e original,
associando os dois pólos em que atua como artista, a
escultura e a fotografia. Coloca, lado a lado, um de suas “máquinas-pulsantes”, da Série Urbis e dois painéis, ocupando o espaço total da parede, nos quais explora sequencialmente as mesma fotografia, e em cores diversas, que é, por sua vez, a extensão ou desdobramento virtual de um relevo constituído por uma lâmina de aço, amassada, que serviu de base para a foto. Ou seja, criou um jogo formal que estimula a percepção, pois o percurso ali proposto vai do real (a lâmina de aço posta ali como signo plástico) ao virtual (a sequência fotográfica, em tromp-l’oeil) para novamente alcançar um real, agora ativado por uma nova dimensão, a do som. Ou seguindo um percurso mais linear: vai da foto à lâmina e desta à escultura-máquina, mantendo-se a mesma unidade formal.
Frederico Morais
© Mauricio Salgueiro 2022
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